Publicado em 05/07/2016

Cubiculados

"De Bartleby, o escriturário, clássico de Herman Melville, à série The office, pouca coisa foi mais execrada que os escritórios, alvo de rancor e escárnio desde que, no século XIX, começaram a se inscrever em nossa geografia urbana. Até hoje, no entanto, ninguém tinha parado para narrar as origens desse lugar onde, a contragosto, muitos acabam por passar boa parte da existência. É o que Nikil Saval faz em Cubiculados, com um resultado que, em contraposição ao tema, não tem nada de burocrático. Para além de um simples registro histórico, o autor traça uma crônica saborosa sobre a evolução dos escritórios e tenta entender por que eles se tornaram a cultura profissional dominante – discutindo, com astúcia e humor, o que isso tem a dizer sobre nós.

Saval parte de um número – 93% das pessoas prefeririam outro espaço para trabalhar – e de uma cena que, captada por uma câmera de segurança, se tornou viral nas redes: um momento de fúria dentro de um escritório, no qual um homem, sem motivo aparente, lança o monitor do computador sobre o colega da baia vizinha, chuta furiosamente as divisórias e, com um bastão, golpeia com força uma impressora até ser imobilizado e incapacitado por uma arma de eletrochoque. Ninguém tem certeza sobre a credibilidade dessas imagens, mas seu sucesso é o bastante para referendar um dos comentários a seu respeito: “lá no fundo, todo empregado quer que seja verdade.”

Um dos objetivos do autor é justamente compreender a essência desse ódio ao escritório. E, para contar essa história, é preciso estar atento a uma confluência de novos tipos de edificações e profundas mudanças econômicas e sociais. Assim, mesclando o pop ao acadêmico, ele remete a Rousseau (que disse que “o homem nasce livre, mas passa a vida em cubículos”) e chega a Mad men, Dilbert e Como enlouquecer seu chefe para tratar, com muito estilo e propriedade, tanto de arquitetura quanto de negócios – dos antigos monastérios ao Vale do Silício, passando pela Revolução Industrial, a construção dos primeiros arranha-céus e a entrada das mulheres no mercado de trabalho. 

Cubiculados é um livro que, apresentando uma pesquisa inédita e aprofundada, fala por intermédio de funcionários anônimos e suas máquinas de escrever, armários de arquivos, escrivaninhas e cadeiras, mas é também uma obra sobre indivíduos que procuraram modelar o escritório – física e socialmente – com o objetivo de melhorar a vida e, claro, a produtividade dos trabalhadores. Mas o maior mérito de Nikil Saval é lançar mão de um símbolo universal do tédio para produzir uma obra brilhante e coesa que, a despeito do tema, é leitura indicada até mesmo para as horas vagas e os dias de folga."

Saiba mais aqui: http://www.livrariacultura.com.br/p/cubiculados-46099547#